Nos últimos meses (julho, agosto e setembro de 2024), voltou ao debate público a possibilidade de reintrodução do horário de verão no Brasil. Com a seca recorde e a aproximação dos meses mais quentes, o governo brasileiro discute o retorno dessa medida, extinta em 2019. Embora a economia de energia proporcionada pelo horário de verão seja considerada baixa por especialistas, o assunto tem dividido opiniões, envolvendo questões técnicas, ambientais, econômicas e sociais.
O horário de verão e sua função
O horário de verão consiste em adiantar os relógios em uma hora durante os meses de maior luminosidade natural. A ideia central é aproveitar ao máximo a luz do dia, reduzindo o uso de energia elétrica à noite. No Brasil, o horário de verão foi instituído durante a gestão de Getúlio Vargas, nos anos 1930, mas foi durante a década de 1980 que sua implementação se tornou regular, com o objetivo de economizar energia, principalmente nos horários de maior demanda, que costumavam ocorrer no início da noite. No entanto, com o avanço da tecnologia e mudanças nos hábitos da população, a eficácia do horário de verão passou a ser questionada.
Internacionalmente, a medida é adotada por vários países fora da região tropical, como Canadá, Austrália, México, Chile e Uruguai.
O contexto atual: seca e crise energética
Atualmente, o Brasil enfrenta uma grave seca, que impacta diretamente os níveis dos reservatórios das hidrelétricas, a principal fonte de energia do país. Ao mesmo tempo, o período de calor intenso aumenta o uso de eletrodomésticos, como ar-condicionado e ventiladores, elevando o consumo energético.
Nesse cenário, o retorno do horário de verão surge como uma medida que poderia aliviar, mesmo que de forma limitada, a pressão sobre o sistema elétrico, especialmente no início da noite, quando ocorre a queda na produção de energia solar e eólica. Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e o Operador Nacional do Sistema (ONS), estudos serão apresentados para avaliar a real viabilidade da medida.
As desvantagens potenciais
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Pouca economia de energia
Especialistas são unânimes em afirmar que a economia de energia proporcionada pelo horário de verão é mínima. De acordo com Cláudio Sales, presidente do Instituto Acende BR, a economia é de apenas 0,5%. Isso ocorre porque o pico de consumo energético hoje acontece no meio da tarde, quando o uso de aparelhos de ar-condicionado e ventiladores é mais intenso, e não no início da noite, como antigamente. Luciano Duque, professor de energia elétrica, ressalta que o consumo de energia para climatização (ar-condicionado e ventiladores) é muito maior do que o de iluminação e chuveiros elétricos, reduzindo o impacto positivo do horário de verão.
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Impacto nos ciclos biológicos
Outro ponto negativo apontado por especialistas é o impacto do horário de verão nos ciclos biológicos da população. Ao adiantar o relógio, as pessoas que começam a trabalhar cedo, especialmente em regiões onde o amanhecer já é tardio, podem precisar sair de casa ainda no escuro. Isso pode afetar o ritmo biológico, prejudicando a saúde de algumas pessoas e trazendo até questões de segurança. A mudança de horário pode trazer dificuldades de adaptação nas primeiras semanas, com efeitos como fadiga, problemas no sono e desorientação temporária. Essa adaptação é especialmente difícil para trabalhadores que precisam se ajustar rapidamente a novos horários.
Os benefícios potenciais
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Alívio ao sistema elétrico
Embora a economia de energia seja limitada, o horário de verão ainda pode contribuir para aliviar a demanda no início da noite, quando a geração de energia solar e eólica começa a decair. Isso ajuda a reduzir a necessidade de acionamento de termelétricas, que são mais caras e poluentes, contribuindo para uma operação mais eficiente do sistema elétrico.
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Impacto positivo no setor de bares e restaurantes
Para o setor de bares e restaurantes, o horário de verão é visto como uma medida que incentiva o consumo. Com a luz natural estendida, as pessoas tendem a aproveitar mais o final do dia para sair e socializar, gerando um aumento no movimento dos estabelecimentos. Além disso, a sensação de segurança ao voltar para casa com luz natural também é vista como um ponto positivo.
Conclusão
A possível volta do horário de verão no Brasil é um tema que mexe com diversos aspectos da vida social e econômica do país. Embora a economia de energia seja pequena, a medida pode trazer alívio em momentos críticos para o sistema elétrico, além de impulsionar setores como o de bares e restaurantes. No entanto, há também impactos negativos, como transtornos na adaptação e efeitos nos ciclos biológicos da população.
A decisão final sobre o retorno do horário de verão será não apenas técnica, mas também política, levando em conta os benefícios e os desafios que a medida representa para a sociedade como um todo. Além disso, se faz necessário pensar não somente nesse ano, mas nos próximo que estão por vir. A decisão deve ser tomada nas próximas semanas.
A crise hídrica ressalta a necessidade de diversificação da matriz energética e o investimento em fontes renováveis e limpas, como energia solar e eólica, tornando claro que o futuro energético do Brasil depende de soluções mais sustentáveis. Pensando nisso, a Laboprime têm um papel importante nesse contexto, realizando análises que ajudam a preservar os recursos naturais, promovendo práticas sustentáveis.